Como os padrões de fala no autismo podem afetar a comunicação? 

Praticamente todas as pessoas com autismo têm problemas com a linguagem falada.  Isso é verdade mesmo para aquelas pessoas que não têm atrasos na fala ou dificuldade de pronúncia.

Isso porque a linguagem falada envolve mais do que o uso de palavras; variamos nosso tom, intensidade, andamento e ritmo em nossa fala para transmitir diferentes significados.

Essas mudanças são chamadas de “prosódia” e as pessoas com autismo costumam ter dificuldade para ouvir, entender ou reproduzir a prosódia.

O que isso significa é que mesmo as pessoas com autismo de alto funcionamento podem não entender verdadeiramente o que está sendo dito, ou podem dizer as coisas de uma forma que são mal compreendidas. 

Como funciona a prosódia? 

A prosódia é uma ferramenta importante para comunicar significado. Na verdade, sem uma compreensão da prosódia, é fácil interpretar mal as palavras de outra pessoa.

Para entender melhor como a prosódia funciona (e por que é tão importante), tente dizer a palavra “realmente” cinco vezes seguidas, mudando o significado a cada vez da seguinte maneira: 

• Quão legal é isso?! 
• Eu não acredito em você. 
• Estou chocado. 
• O prazer é todo meu. 
• Eu estou dizendo a verdade. 

Se você fez este exercício, mudou sua prosódia a cada repetição da palavra, embora sua pronúncia da palavra (REE-lee) permanecesse a mesma. Em alguns casos, sua voz subiu ou desceu em diferentes sílabas, ou em graus variáveis; em outros casos, sua voz era mais alta, mais baixa, mais rápida, mais lenta. 

Por que a prosódia pode ser confusa para pessoas com autismo? 

Quando as pessoas com autismo usam a linguagem falada, geralmente a usam literalmente. Como resultado, sarcasmo, ironia, expressões idiomáticas, metáforas e comparações podem passar por cima de suas cabeças, assim como diferenças sutis de significado. 

É fácil entender por que isso acontece. A prosódia é aprendida por meio de observação e imitação, e não por meio de instrução. Embora existam regras de prosódia, elas são raramente expressas em voz alta – e podem variar dependendo da situação ou do ambiente cultural.

Pessoas com autismo raramente aprendem habilidades de comunicação social apenas por meio da imitação; portanto, se não forem ensinados ativamente sobre as regras da prosódia, talvez nunca as aprendam. 

Por que a prosódia é importante? 

Como muitas pessoas com autismo verbal têm QI alto e vocabulários enormes, as dificuldades com a prosódia e o uso da linguagem nem sempre são óbvias – porque o falante não é obviamente deficiente.

O resultado é que os parceiros de conversa podem ficar inadvertidamente ofendidos ou confusos, resultando em sentimentos de mágoa e interações negativas.  

Por exemplo, afirmações como as seguintes podem significar muitas coisas diferentes, dependendo do tom, do contexto e da linguagem corporal; mal-entendidos podem ter consequências graves. 

Um amigo diz “Eu te amo!” (mas significa “Adoro o fato de você ter concordado em fazer algo por mim”)

Um colega de trabalho diz: “Você realmente concluiu este projeto?” (mas significa “você não concluiu este projeto e deve verificar novamente se há erros”) 

Um balconista diz “Você tem que comprar isso” (mas significa “Quero que você compre isso e estou tentando persuadi-lo a fazer isso”) 

Além disso: 

Pessoas com autismo podem achar muito difícil usar a prosódia para expressar significados múltiplos ou sutis, limitando assim sua própria habilidade de comunicação. Isso pode levar a uma infinidade de problemas de comunicação social, desde gafes embaraçosas a, acusações de agressão verbal ou perseguição.

Muitas pessoas com autismo não conseguem usar a prosódia, portanto, têm o que costuma ser descrito como uma voz “plana”. Isso às vezes é mal interpretado como falta de interesse, falta de inteligência, falta de humor ou falta de resposta emocional.

Na verdade, muitas pessoas com autismo são extremamente sensíveis emocionalmente; muitos são artistas, poetas e compositores cuja sensibilidade emocional transparece em sua arte.

E muitas pessoas com autismo têm um senso de humor incrível. Mas uma voz monótona, combinada com a falta de expressividade verbal, pode ser facilmente mal interpretada. 

É extremamente fácil para as pessoas com autismo entenderem mal como a linguagem está sendo usada; isso pode levar a sérios problemas de relacionamento e pode tornar as pessoas autistas vulneráveis àqueles que desejam enganá-las. 

Recursos para melhorar o uso e a compreensão da prosódia. 

Não há terapias completas desenvolvidas para ajudar as pessoas com autismo a superar os déficits de prosódia, embora abordagens experimentais estejam sob investigação. Se você estiver interessado em explorar possíveis direções para melhorar a prosódia, você pode querer explorar: 

• Musicoterapia para trabalhar o ritmo e o tom. 
• Fonoaudiologia pragmática para expandir as habilidades de conversação.
• Terapia de habilidades sociais para melhorar a compreensão da linguagem corporal e do contexto. 
• Terapia dramática para praticar a interação de maneira segura e planejada.

Fontes

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